A paralisação de motoristas responsáveis pelo transporte de alunos da rede municipal de Jaboatão dos Guararapes foi o centro de um acalorado debate na Câmara de Vereadores, durante a sessão de 10 de outubro de 2025. O movimento, que deixou estudantes sem aula, expôs um complexo conflito envolvendo direitos trabalhistas, a responsabilidade de empresas terceirizadas e a atuação do poder público.
O debate na tribuna na Câmara de vereadores apresentou duas versões conflitantes sobre os motivos e a forma como a paralisação ocorreu, colocando em lados opostos a defesa dos trabalhadores e a crítica aos métodos utilizados.
Versão 1: A Luta por Direitos e Salários Atrasados

O vereador Henrique Metalúrgico (PT) iniciou a discussão, defendendo a legitimidade do movimento como um “ato de bravura”. Ele denunciou que o atraso de salários e benefícios é um problema crônico envolvendo as empresas terceirizadas que prestam serviço à prefeitura, como a TOPS, RM e a nova empresa, LOC.
“Hoje a gente já está em dia 10 e ainda tem trabalhadores que não receberam seus salários”, afirmou. Segundo o parlamentar, a falta de repasses da prefeitura às empresas é a raiz do problema, levando a uma série de irregularidades, como férias vencidas e não pagas, rescisões em atraso e o não cumprimento de pisos salariais. Para ele, a paralisação foi o “último recurso” de uma categoria cansada de dialogar sem obter resultados.
Versão 2: Bloqueio Forçado e Falha Burocrática

Em contraponto, o vereador Enéias Marcelo (sem partido especificado) trouxe outra perspectiva. Ele afirmou que a paralisação de motoristas não foi uma decisão unânime da categoria, mas sim uma ação forçada por um único indivíduo que bloqueou a saída dos ônibus do pátio da empresa.
“A paralisação ela tem que ser aderida voluntariamente”, criticou, apresentando áudios de motoristas que queriam trabalhar, mas foram impedidos. “Os ônibus não foram para a rua ontem […] porque o cara chegou cedo e travou o ônibus na porta do CDL”.
Além disso, Enéias Marcelo esclareceu que o atraso no pagamento da nova empresa não se deu por falta de recursos da prefeitura, mas por uma falha burocrática: a empresa não havia entregue toda a documentação necessária, como a certidão negativa do INSS, para que o pagamento pudesse ser legalmente efetuado. “Uma empresa que ganha uma licitação, ela entende que tem que preparar toda a documentação para poder a prefeitura pagar”, explicou.
Um Debate sobre Legitimidade e Responsabilidade
O embate de narrativas na Câmara de Jaboatão levanta questões cruciais:
- Direito à Greve vs. Direito de Ir e Vir: Até que ponto um movimento grevista pode impedir que trabalhadores que não aderiram exerçam suas funções?
- Responsabilidade Contratual: De quem é a culpa pelo atraso? Da empresa que não se organiza burocraticamente ou da prefeitura que não fiscaliza adequadamente seus contratados?
- O Impacto na População: No centro do conflito, ficam os alunos e suas famílias, prejudicados pela interrupção de um serviço essencial.
O debate evidenciou a complexidade das relações trabalhistas no serviço público terceirizado e a necessidade de maior transparência e fiscalização para evitar que a população seja a maior penalizada.








